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Rosângela Moro levanta bandeira da Lava Jato e de pessoas com doenças raras

Esposa do ex-juiz Sérgio Moro é candidata a deputada federal pelo Estado de São Paulo 

  • Rosângela Moro levanta bandeira da Lava Jato e de pessoas com doenças raras.
    Foto: Victor Enzo
  • Por: Gislayne Jacinto
  • Publicado em: 26/09/2022
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Esposa do ex-juiz Sérgio Moro é candidata a deputada federal pelo Estado de São Paulo

Rosângela Moro

Rosângela Moro levanta bandeira da Lava Jato e de pessoas com doenças raras. Foto: Victor Enzo

Rosângela Moro (União Brasil), esposa do ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro, é candidata a deputada federal pelo Estado de São Paulo. Ela concedeu entrevista exclusiva ao ABCD Jornal e falou de suas bandeiras caso seja eleita em 2 de outubro. Além de defender propostas como o fim do foro privilegiado, prisão após a condenação em segunda instância, ela ainda diz que é a favor de criações de leis que garantam autonomia e segurança jurídica para as autoridades que investigam e citou as dificuldades enfrentadas pelo marido e pelo ex- procurador Deltan Dallagnol. Rosângela ainda diz que defenderá as pessoas com doenças raras que hoje somam 13 milhões no País. Leia a íntegra da entrevista:

ABCD Jornal- Por que a senhora decidiu sair candidata a deputada federal?

Rosângela Moro – Primeiro porque eu trabalho com política pública desde 2009. A política pública que eu trabalho é terceiro setor. O terceiro setor são entidades privadas sem finalidade lucrativa fazendo e prestando serviços de interesse social ou com parceria com o Estado. Quando digo Estado, eu quero dizer União, Estados e Municípios. Essas entidades atingem um lugar que o estado não alcança. Então, vamos pegar, por exemplo, as mais conhecidas que são as Santas Casas. Então, eu trabalho com essas entidades de terceiro setor de saúde, educação e assistência. Eu coordenei a parte jurídica de algo de 3 mil associações na minha carreira profissional. Em 2012, eu fui apresentada pro universo das famílias convencionadas e eu estudei muito também, não as doenças em si, pois são muitas, são de 6 a 8 mil doenças catalogadas. E eu não sou da área médica, mas  eu estudei muito a implementação de política pública pra esse segmento. Então, quando a gente trabalha com esse segmento, chega um momento que a gente precisa que a política pública vire lei. Então, a gente vai até um determinado momento e precisa de um parlamentar pra gente poder aprovar e virar lei. Então, sempre ficou em mim um pouquinho de frustração, pois  a gente chegou até aqui e agora precisa transformar em lei. E por outros diversos fatores, ou porque não há o ponto de interesse, ou por não chamar atenção em que pese que sejam milhões de pessoas com deficiência com doença rara. Então, sempre ficava um ‘Q’ de frustração. Somado a tudo isso, como eu vivi a Lava Jato dentro da minha casa, eu tenho combate à corrupção no meu DNA. E eu fico revoltada em ver tanto dinheiro desviado indevidamente. E eu sei o quanto faz falta recurso para a  implementação dessas políticas públicas.  A chance de cura das doenças raras é altíssima, mas a tabela do SUS vem engessada.

ABCD Jornal – A senhora, então, é a favor da correção da tabela do SUS?

Rosângela Moro – Sou a favor. Isso tem que ser pra ontem, isso é uma obrigação do estado, corrigir a tabela do SUS pra ontem pra que as entidades filantrópicas possam continuar atendendo. A pergunta que tem de fazer é, se as filantrópicas não tiverem a correção do SUS ou elas vão parar de atender ou vão diminuir o número de atendimentos. Vamos imaginar uma Santa Casa fechar. Pra onde vão essas pessoas? O Estado não tem estrutura própria pra atender todos eles. Isso que eu falo da saúde repete pra educação, repete pra educação especial, repete para um monte de rede conveniada que pode fazer esse trabalho que o estado não faz.

ABCD Jornal – Mas o que as pessoas podem esperar do seu mandato?

Rosângela Moro – Elas podem esperar do meu mandato melhorias, propostas de participar desses debates, das leis que combatem a corrupção. Fim do Foro privilegiado, prisão após a condenação em segunda instância. Além disso, temos de ter uma lei que dê autonomia e que garanta segurança jurídica para as autoridades que investigam. Veja o que aconteceu, por exemplo, com o juiz Sérgio Moro e com o procurador Deltan Dallagnol de serem tratados como bandidos. Eles ficaram sujeitos a responder processos porque eles fizeram o trabalho deles enquanto instituição. Isso enfraquece as instituições do nosso país. Ainda nesse segmento do combate à corrupção, sempre dar autonomia para os órgãos e independência para os s órgãos de controle, todos eles, a polícia, COAF, magistratura, Ministério Público e Procuradorias. Eu só acredito que a gente pode combater a corrupção fortalecendo os órgãos de controle. As pessoas também podem esperar de mim políticas públicas voltadas para as pessoas com doenças raras. Hoje a gente só tem uma lei que diz qual é o Dia Internacional das Pessoas com Doenças Raras. Isso é importante? É importante e chama as pessoas aí para o debate, conscientiza a sociedade, mas na prática não se transfere numa prestação de material para as pessoas com doenças raras. Estamos falando em 13 milhões de pessoas com doenças raras no Brasil. E nós temos apenas uma portaria de 2014. É uma Portaria do Executivo, mas é muito frágil. Então, o meu primeiro plano será realizar uma audiência pública para ouvir todos os seguimentos, as entidades nacionais, a sociedade bem representada. É preciso revisar aquela portaria e transformar em um projeto de lei. E veja, quando eu falo de política para doença rara, eu não estou falando só de remédio, não é só remédio. A gente tem de ter um olhar também às famílias, pois algumas pessoas, principalmente as mães, abrem mão de trabalhar, abrem mão da carreira para cuidar com muito amor, mas ninguém discute que tem de ter uma política voltada para  elas. A grande maioria das famílias não tem estrutura para ter uma cuidadora, um enfermeiro, não existe, isso é muito raro, e  a gente tem de pensar numa política pra elas, tem que ter uma política de acolhimento, tem que ter uma política de capacitação e de inserção delas dentro do possível no mercado de trabalho.

ABCD Jornal – A senhora também vai ser o braço do Sérgio Moro no Congresso?

Rosângela Moro – A gente tem os mesmos valores e os mesmos princípios e, assim como ele, eu defendo tudo que aconteceu na Lava Jato e, principalmente, o legado da Lava Jato, que mostrou que a lei é para todos. A Lava Jato mostrou o quanto o dinheiro era desviado, tirou a sujeira debaixo do tapete. E a Lava Jato deu um sopro de esperança para os brasileiros. A gente viu nas manifestações. O que me faz ser candidata aqui em São Paulo é porque aqui representa muito a Lava Jato, pois foi aqui que concentrou a maior parte das pessoas na avenida Paulista. E muitos candidatos que foram eleitos com a bandeira lavajatista meio que se distanciaram dela. Então, eu acho que  São Paulo está precisando de um legítimo representante do legado da Lava Jato pra fortalecer ainda mais o combate ao  sistema de corrupção. E eu quero pegar toda a minha experiência de política pública e implementar projetos.

ABCD Jornal – A Justiça Eleitoral deferiu seu  domicílio eleitoral no Estado de São Paulo, mas não aceitou o do seu marido. Como que vocês encararam isso?

Rosângela Moro – Tudo que diz respeito a Sérgio Moro é mais dificultoso por causa da Lava Jato. Ele, como juiz da Lava Jato, meio que sacudiu o sistema e isso desagrada, pois a grande maioria não quer mudança. Lembra no ano passado quando o Congresso começou a se manifestar pra ter uma Lei anti-Moro? O juiz não poderia ser elegível. Queriam tentar cassar os  direitos políticos dele. Então, você tem de fazer essa leitura que tudo que envolve Sérgio Moro é mais difícil. Ele vai encontrar essa barreira no sistema agindo contra ele. Quando  ele  pediu domicílio em São Paulo e o Tribunal Regional Eleitoral indeferiu, eu quero acreditar que foi novamente uma  decisão de cunho político.  Ele comprovou os vínculos com São Paulo e o tribunal mudou a jurisprudência e Sérgio Moro não pode ser se candidatar pelo estado de São Paulo. Ele voltou para o Paraná e optou por não recorrer. Os mesmos documentos que ele juntou eu juntei. Eu tenho vínculo profissional com São Paulo desde 2015 e demonstrei isso.

ABCD Jornal – E como que você avalia a campanha dele?  

Rosângela Moro – A campanha dele lá indo de vento em polpa. Eu acompanho. Muito antes dele ser candidato, quando a gente saia por lá, todo mundo abordava. E eu não vejo nenhum outro candidato que está na fila do mercado e seja  abordado. De repente vinha um monte de gente dizendo  “Olha doutor , segue em frente, que legal seu trabalho, conte conosco, é isso aí, parabéns pelo trabalho”. Ele não tem padrinho político, o padrinho político do Sérgio é a sociedade. Então, eu vejo muito, muito, muito apoio de brasileiros, sabe? De  cidadão, de gente, apoia muito. Só uma pequena militância fala que a Lava Jato teve problema, que a Lava Jato gerou desemprego. O que gera desemprego é a falta de investimento no país, não é ela, mas sim a corrupção.

ABCD Jornal – E como foi conviver de tão perto com a Operação Lava Jato? 

Rosângela Moro – A operação Lava Jato, ela começou em 2014. Sérgio Juiz foi juiz da Lava Jato até do final de 2018 quando então ele foi convidado para ser ministro. Então a gente tem ali alguns anos. Quando a Lava Jato começou,  não se sabia, não se tinha bola de cristal pra saber a dimensão que tinha, tudo começou  na serenidade, e no trabalho técnico dele, dos outros órgãos e instituições. E internamente na nossa casa  foi tudo tratado com serenidade, mantendo a estrutura da família. Tiveram as  questões de segurança que a gente teve que se adaptar.

ABCD Jornal- Vocês sofreram algum tipo de ameaça?

Rosângela Moro – Ah sim, porque envolve muita gente, né? Muita gente poderosa, poderosa e muita gente politicamente e economicamente poderosa, né? Como nunca se antes viu. E, por isso mais, falo mais uma vez. Se a gente não der segurança jurídica para as pessoas que enfrentam problemas como esse, não sei se vai ter outro Juiz Sérgio Moro, não sei se vai ter outro Deltan. Porque daí como que a pessoa se coloca? Ela vai  prender e depois  vai ver toda essa represália vindo pra cima dela. Então, a gente tem de pensar que tipo de país a gente quer viver.

ABCD Jornal – E como que a senhora avalia a atual conjuntura política do País?

Rosângela Moro – Eu não gosto de ver esse cenário polarizado. Isso não é bom, acho que a gente tem de focar em propostas, e ver o que é bom para o País. Hoje, o que o brasileiro está precisando muito é de comida na mesa, diminuir a desigualdade. Tem muita gente passando fome. É um país com muita desigualdade e a concentração nas mãos de poucos. Precisa para ontem ter um olhar pra tirar pessoas da linha da miséria, da pobreza e da  miserabilidade. Os programas de transferência de renda são sim importantes, ninguém quer ver as pessoas passando fome. As pessoas usam o auxílio porque precisam usar, ninguém merece morrer de fome. As pessoas querem dignidade, as pessoas querem escolher o que fazer do seu dinheiro, as pessoas querem trabalho, as pessoas querem ver seus  familiares alimentados, seus filhos indo pra escola. Então, isso  seria uma das prioridades.

ABCD Jornal – E no estado de São Paulo? Como que você está encarando a disputa? 

Rosângela Moro – No estado de São Paulo eu tenho sido super bem acolhida. É claro que eu não conheço todas as cidades, os mais de  seiscentos e tantos municípios. Eu tenho ido a um maior número de municípios. Uns que eu já conhecia, uns que eu ainda não conhecia. Tenho falado com a imprensa, principalmente com entidades de terceiro setor e as pessoas me perguntam: “Ah mas você não é de São Paulo”? Realmente, natural de São Paulo eu não sou assim como tem 80% da população que mora aqui que também não é daqui. Agora uma coisa eu te garanto é que a fome de São Paulo é a mesma dos outros estados, a doença rara é a mesma. E quando você faz uma lei no Congresso Nacional você não faz uma lei só para São Paulo, você está fazendo uma lei nacional. Então, o estado de São Paulo eu acho que é um empreendedor, a gente tem que revisar os índices da arrecadação que ficam para Estado de São Paulo. Tem de  garantir mais recursos nos municípios, porque é no município que o cidadão vive. Eu acho que ali o gestor municipal ele tem melhores condições de saber o que é mais importante pra população num determinado momento. Então, é preciso fortalecer os municípios e revisar o Pacto pelo Estado de São Paulo. A questão de segurança pública é comum nas grandes cidades e nas cidades menores também, assim como a fome  e a saúde. Então, acho que os problemas são meio que comuns.

ABCD Jornal- E num eventual segundo turno entre Bolsonaro e Lula, qual vai ser seu posicionamento?

Rosângela Moro – Eu estou ainda focada no primeiro turno. Eu não estou  pronta para fazer a escolha.  Mas uma coisa é certa: no PT eu não voto.

ABCD Jornal- E qual a mensagem deixa para os eleitores de São Paulo? 

Rosângela Moro – Eu quero dizer para os eleitores de São Paulo que eu tenho sim experiência com política pública, eu sou mais do que esposa do Juiz da Lava Jato, tenho livros escritos muito antes de ser candidata, e que eu sempre defendia o trabalho do terceiro setor. Eu quero dizer pra esses eleitores que essas políticas públicas fazem a diferença na vida das pessoas. Eu vivi a Lava Jato dentro da minha casa e eu sei quanto a corrupção é um câncer para o país. Eu sei que a gente precisa de pessoas independentes, assim como o juiz da Lava Jato foi, assim como os órgãos foram e eu não tenho padrinho político. Eu posso dizer que se tem uma pessoa que não tem rabo preso com ninguém sou eu. Eu não devo favor pra político nenhum e eu me sinto assim com total autonomia e independência para defender os interesses do Estado de São Paulo.

Veja vídeo da entrevista