Judoca de São Bernardo luta para garantir vaga em Tóquio
Em disputa acirrada, Rebeca Silva vai ao Azerbaijão e à Inglaterra para ultrapassar adversária paulista no ranking da IBSA
Em disputa acirrada, Rebeca Silva vai ao Azerbaijão e à Inglaterra para ultrapassar adversária paranaense no ranking da IBSA
Aos 20 anos e de malas prontas para o Azerbaijão, rumo ao Grand Prix de Baku, que acontecerá no final de maio, a judoca são-bernardense Rebeca de Souza Silva nunca esteve tão perto de realizar o maior sonho de sua carreira: representar o Brasil em uma paralimpíada. Por uma vaga em Tóquio, porém, trava uma disputa acirradíssima com a paranaense Meg Emmerich.
É que as duas estão a menos de 200 pontos de distância no ranking da IBSA, sigla em inglês que significa Federação Internacional de Esportes para Deficientes Visuais. Se o Brasil pudesse ter mais de uma representante por peso nos Jogos paralímpicos, no caso delas acima de 70 kg, ambas estariam garantidas. A decisão sobre quem vai e quem fica depende da competição em Baku e de outra, que acontece logo na sequência, o Grand Prix inicialmente previsto para Nottingham, agora foi transferido para Warwick, na Inglaterra.
A diferença, que pode ser eliminada ou dobrada em um único torneio, e toda disputa que envolve os números, Rebeca garante que fica apenas lá nos tatames. “A gente não tem nenhuma intriga, conversamos fora do tatame. Mas lá dentro tem bastante rivalidade, a amizade passa longe”, brinca a doce e divertida atleta.
Mesmo em fase de foco total para as competições, Rebeca faz questão de manter exposta vida pessoal e a atuação assídua nas redes sociais, que ela imagina ser um meio de auxiliar e influenciar pessoas. Para a rede, levou toda a família, que protagonizou a série ‘Minha trajetória’ onde, além de divertir-se e informar, acabou descobrindo fatos inéditos que nem ela mesma sabia sobre a própria vida. Brincou com seguidores, emocionou-se, respondeu perguntas.
Com a ajuda do primo, que faz as imagens e as artes “instagramáveis”, Rebeca é a autora das ideias das publicações e do conteúdo que alimenta seu Instagram (@rebecasilvajudoca). “A intenção é transmitir o poder, a superação, fazer com que as pessoas entendam que elas também podem”, disse.
De superação, ela entende. Rebeca nasceu com uma doença degenerativa hereditária que afeta a retina. Por isso, desde criança enfrenta batalhas diárias e de todas elas, sem exceção, saiu vitoriosa. Talvez seja por isso que tenha encontrado na arte marcial das antigas tradições japonesas seu esporte da vida. Antes dele, praticou atletismo, natação e goalball.
Atualmente, ela conta apenas com o “salário” do Bolsa Atleta Pódio, um programa do governo federal que contempla atletas entre os 20 melhores do ranking mundial e que é reavaliado anualmente. A lutadora diz que “seria ótimo” ter mais patrocínios. “É simples. Só entrar em contato comigo”, disse, mantendo o bom humor e a simpatia, ao ser questionada sobre o que deve fazer quem tiver a intenção de patrociná-la.
Certamente o patrocinador que decidir pelo investimento em Rebeca não vai se arrepender. Apesar da pouca idade, a moça discursa com firmeza e sabe o que significa a política em torno do esporte. Sem medo, ela faz críticas a falta de visibilidade das modalidades paralímpicas no país. “É pouco conhecido, falta divulgação, porém ultimamente está ganhando um pouco mais de destaque porque as pessoas têm se interessado mais. Conseguimos trazer muito mais resultados, lideramos no Parapan de Lima (2019)”, disse.
Para o futuro, os planos de Rebeca são os de continuar no esporte. Ela faz faculdade de Educação Física e pensa em “abrir os horizontes” na área da Fisioterapia.
Logística e Covid
Após ter passado o começo da pandemia treinando em casa, a seleção brasileira voltou aos treinos no centro paralímpico e mantém-se em constante testagem além de seguir à risca todas as normas sanitárias de combate ao coronavírus. Rebeca já perdeu as contas de quantos teste de Covid já fez, mas acredita terem sido 10 ou mais.
Para a viagem ao Azerbaijão, os atletas farão um isolamento de 10 dias no centro paralímpico, localizado na Rodovia Imigrantes, e permanecerão no exterior para conseguir entrar na Inglaterra, já que o Reino Unido impõe regras rígidas incluindo cumprimento de quarentena e testagens para a entrada de brasileiros.
São vários treinos por dia, por horas seguidas, inúmeros por semana, pandemia, dificuldades, alimentação regrada. “Tudo é muito difícil”, ela diz. Mas não foge à regra do jeito Rebeca de ser e termina com um verdadeiro ippon, o golpe perfeito do judô, aquele que vence uma luta: “Apesar de ser tudo muito difícil, tudo facilita quando se está focado com suas metas definidas. Vai muito da sua cabeça, da sua meta e do que você quer para você. E o meu maior objetivo é ser campeã paralímpica”. Alguém duvida?