Entenda o pós-Covid e saiba como retomar a prática de atividade física
Durante sete meses após a recuperação, vítimas do coronavírus ainda podem apresentar 69 sintomas; especialistas explicam o que acontece com o corpo de quem foi contaminado
Durante sete meses após a recuperação, vítimas do coronavírus ainda podem apresentar 69 sintomas; especialistas explicam o que acontece com o corpo de quem foi contaminado
O Brasil já soma mais de 13,5 milhões de casos do novo coronavírus em um ano de pandemia. Destes, 88,2% estão recuperados e vivem o chamado pós-Covid. O período, que vem cheio de incertezas e temores, também garante um novo desejo: o de manter-se saudável e com a imunidade elevada através da atividade física.
Mas será que todos podem retomar a rotina de exercícios ou até mesmo iniciar uma prática nova? A resposta dos especialistas é afirmativa, porém deve acontecer apenas após liberação médica e sempre acompanhada por um profissional de Educação Física.
O cardiologista e eletrofisiologista da Rede D´or, Hospital Albert Einstein e Instituto Dante Pazzanese, Bruno Valdigem, disse que a recomendação para quem não é atleta profissional é de que a pessoa fique sem fazer atividade por pelo menos 14 dias após estar assintomática. “Os que ficarem com dispneia (desconforto respiratório) ou qualquer outro tipo de limitação terão de fazer um acompanhamento até se tornarem assintomáticos.”
O professor de Educação Física especialista em fisiologia do exercício e doutor em atividade física e promoção da saúde, Fabio Ceschini, reforça a necessidade de uma liberação médica antes do retorno às atividades. “A primeira coisa que as pessoas precisam entender é que só podem voltar a fazer exercícios após a liberação do médico. Ele vai avaliar, pedir exames complementares e, liberada, a sugestão é que a pessoa recomece gradativamente. Alguns foram contaminados mas não tiveram nenhum tipo de sinal, outros ficaram internados por muito tempo. Isso significa que cada um terá uma necessidade diferente.”
Para aqueles que perderam muita massa muscular devido ao tempo parado, o ideal é que retornem com atividades comuns do dia a dia, que exigem força e flexibilidade simples, como sentar-se e levantar da cadeira. “Já as atividades como correr, pedalar, academia, necessitam da orientação de um profissional de Educação Física”, afirmou Ceschini.
De acordo com ele, já existem estudos científicos que mostram que uma pessoa contaminada pode ter até 205 tipos diferentes de sintomas e que, em média, nos sete meses após a contaminação, pode apresentar 69 sintomas. Em média, cada pessoa irá apresentar 9 sequelas da Covid.
É por isso que os cuidados com a recuperação e o período pós-Covid devem ser levados tão a sério. Valdigem explica que há dois problemas pontuais relacionados a volta precoce. Um deles refere-se a parte pulmonar e o outro, ao coração. “O vírus causa sequelas tipo fibrose em alguns pedaços do pulmão, então a troca de oxigênio vai ficar um pouco mais limitada. Para a parte cardiológica, em algumas pessoas também causa fibrose no coração, aumento de tamanho e enfraquecimento da parte contrátil. Isso quer dizer que a pessoa está mais propensa a alguns tipos de arritmia graves, como arritmias ventriculares. Arritmia é qualquer ritmo anormal, em especial aqueles que podem levar a algum tipo de complicação grave, que é a morte súbita.”
Para os sedentários que desejarem iniciar a prática de uma atividade física no pós-Covid, o professor recomenda que a atenção seja voltada a intensidade e ao tempo da atividade. “Claro que é sempre bom começar e um sedentário que começa a fazer exercício agora terá benefícios. Porém, se a pessoa estiver com excesso de peso, estressada, dormindo mal, esse conjunto de fatores pode, na prática mais vigorosa de atividade física, deprimir o sistema imune ao invés de melhorar”, disse.
Ceschini também alerta para a falsa ideia de que praticantes de atividade física com a imunidade alta garantida estão livres da contaminação. “Não existe nenhuma evidência clara disso. Há estudos que falam sobre as pessoas mais ativas e o menor risco, mas também tem muitos casos entre atletas”.
Por isso, o kit máscara e álcool gel aliado a higienização constante das mãos e ao isolamento social, enquanto a vacina não chega a maior parte da população, continuam sendo a melhor arma no combate ao coronavírus.