Sem atendimento do Samu, bebê nasce em trajeto de estrada de terra em RGS

Mãe critica atendimento de emergência, reclama de tratamento na UPA e questiona condições viárias e de acesso na cidade

Sem atendimento do Samu, bebê nasce em trajeto de estrada de terra em RGS.

O que era para ser um dos momentos mais felizes da família virou um verdadeiro pesadelo para a dona de casa Verônica Silva Santos, 32 anos. Moradora de Rio Grande da Serra há cinco anos, ela esperava que o terceiro filho chegasse apenas no dia 28 de maio, mas uma sucessão de acontecimentos acabou por antecipar o parto do Thomas, que nasceu dez dias antes, em uma estrada de terra, dentro de um Uber a caminho do hospital.

Irritada com as condições do caminho (estrada de lama com falta de iluminação e segurança) que percorria quase todos os dias para chegar até a UBS da Vila Niwa, onde fez o acompanhamento pré-natal, ela confiou nos médicos que disseram estar “tudo ótimo” e confirmaram a data de nascimento do bebezinho para 28 de maio.

“Passei três dias de estresse, medo de cair, escorregar durante a meia hora de caminhada pela estrada Sete Pontes. Segunda, terça e quarta enfrentando aquela lamaceira para ir e voltar da UBS, no centro. Mas os médicos falavam que estava tudo ótimo, que o bebê ia nascer mesmo na data prevista. Acho que foi tanto estresse que antecipou”, disse.

O Thomas nasceu rápido desde que a mãe começou a sentir os primeiros sinais de que ele estaria chegando. Eram cerca de 5h da manhã quando o casal telefonou para o Samu, que sem nem tentar ajudar na ocorrência, informou que não iria ao local porque correria o risco de atolar a viatura na lama do caminho.

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“Todos os nossos vizinhos têm carro, mas naquele dia nenhum deles estava em casa. Então, chamamos uma amiga que trabalha como Uber e ela veio me socorrer. Quando ela chegou, senti uma contração”, conta Verônica.

Eram 6h30 quando o menino nasceu, ainda no Uber, a poucos metros da casa da família. Dali, começou uma nova saga: a do atendimento de criança e bebê no pós-parto que tinha acontecido dentro do veículo.

“O médico da UPA disse que não sabia como fazer para tratar uma mulher grávida. Então, ele puxou a minha placenta e senti muita dor. Isso até chegar uma boa alma, uma médica residente, que fez uma massagem na minha barriga e ajudou a eliminar.” Depois disso, a mãe foi transferida para o Hospital Nardini, em Mauá, onde permaneceu internada por cinco dias.

UBS sem geladeira

Ainda abalada com a experiência que viveu durante o parto do Thomas, o terceiro filho de três (a Verônica tem mais uma menina de 13 e um menino de 5 anos), a moça viveu mais um perrengue quando tentou dar as primeiras vacinas do bebê na UBS da Vila Niwa, bairro onde mora.

Sem geladeira e por isso sem condições de armazenar medicamentos e vacinas que necessitam de refrigeração, a unidade de saúde não pode atender mães e crianças no que diz respeito a imunizações.

“Então me mandaram para o bairro Santa Tereza, em um outro posto”, disse. Além dos 30 minutos de caminhada que faz a pé pela estrada Sete Pontes (onde o Thomas nasceu) até a UBS da Vila Niwa, somam-se mais 20 minutos de transporte público até o novo posto onde as vacinas estão disponíveis.

Verônica conta que não existe iluminação pública, manutenção nem segurança durante o trajeto que faz a pé quase todos os dias agora e também durante a gravidez.

O vereador Akira do Povo, de Rio Grande da Serra, entrou nesta semana com requerimento solicitando informações da Prefeitura sobre a UTI móvel da cidade que, de acordo com ele, estava presa por falta de documentação. O parlamentar também informou que está cobrando a Administração sobre a geladeira da UBS Vila Niwa há mais de 10 meses.

Procurada pelo ABCD Jornal, a Prefeitura prometeu responder aos questionamentos da reportagem sobre o caso na próxima segunda-feira (10/06).

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Juliana Finardi

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