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Eleitos em Diadema e RGS são primeiros prefeitos descendentes de japoneses da história do ABCD

Taka Yamauchi e Akira Auriani imprimem suas cidades nos livros de memória da Região do ABC Paulista

  • Taka e Akira Auriani são os primeiros descendentes de japoneses da história do ABCD.
    Foto: Gislayne Jacinto
  • Por: Juliana Finardi
  • Publicado em: 05/11/2024
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Taka Yamauchi e Akira Auriani imprimem suas cidades nos livros de memória da Região do ABC Paulista

Taka e Akira Auriani

Taka e Akira Auriani são os primeiros descendentes de japoneses da história do ABCD. Foto: Gislayne Jacinto

 

Dois prefeitos eleitos na Região vão assumir seus mandatos imprimindo uma marca: Taka Yamauchi (Diadema) e Akira Auriani (Rio Grande da Serra) são os primeiros administradores descendentes de japoneses da história política do Grande ABC.

Quem reforça a condição de fato histórico é o jornalista, escritor e memorialista da Região, Ademir Medici. “A colônia é muito unida. Sempre se preocupou em eleger políticos descendentes de japoneses que há mais de um século vivem e trabalham na Região.” Sem exceção, todas as câmaras municipais já tiveram representantes da colônia.

Questionado pela reportagem sobre o significado da conquista, o jovem Akira, 39 anos, afirma ser motivo de muito orgulho para a família. “Depois do seu questionamento foi que eu consegui parar para pensar um pouco o tamanho que era porque é motivo de muito orgulho para a minha família, principalmente porque eu venho de família alemã por parte de pai e de japoneses por parte de mãe. O meu avô faleceu durante a campanha com 99 anos de idade e ele estava torcendo muito para que desse certo.”

 

Não só deu certo como veio em dobradinha com outro descendente oriental, Taka, na quase vizinha Diadema. O primeiro vice-prefeito da cidade, aliás, tem raízes orientais, Eiziro Okazaki. “Depois do mandato inicial, na virada dos anos 50 para 60, tornou-se diretor da Câmara Municipal local. Ele vive e sempre foi uma boa fonte para assuntos diversos, inclusive os de história e memória. Deve estar feliz em ver um patrício, natural de São Bernardo, que poderia ser seu neto, ser eleito prefeito da sua cidade”, conta Medici.

Taka acrescenta a diversidade de migrantes na cidade e soma as descendências aos planos para seu governo. “Uma cidade como Diadema com muitos migrantes nordestinos, onde a gente tem a tradição do trabalho, da honestidade e garra, acho que essa identificação com o povo de Diadema faz com que nós imigrantes descendentes de japoneses tenhamos uma boa vibração com essa conduta de transformarmos a cidade de Diadema.”

Transformação de Rio Grande da Serra

Transformação é o que Akira planeja ver na forma como Rio Grande da Serra preserva sua história. A tia do prefeito eleito, Gisela Leonor Saar, foi uma grande memorialista da cidade e deixou um acervo de respeito. “Dra. Gisela foi uma amiga querida. Guardo seus escritos, sempre muito carinhosos, datilografados ou manuscritos. Palavras amáveis, doces, de incentivo à construção da memória. Uma incentivadora. Caso o novo prefeito decida criar um museu, um arquivo, um espaço voltado à memória, com muito prazer cederia o vasto acervo que guardo e que tem a mão da querida e saudosa Dra. Gisela Leonor Saar”, propõe Medici.

Ele tem. Akira, aliás, não economiza nos sonhos. “Um sonho particular meu e que pretendo colocar em prática é que em breve a gente possa ter um museu na cidade, um centro histórico com todo esse acervo histórico. Além do que o Medici tem, nós da família também temos muita coisa que minha tia guardou. Ela foi uma das defensoras daqui, principalmente da capela de São Sebastião, que é o marco zero da cidade, e nossa família tem um vínculo muito grande com o município – foi a segunda família a se instalar em Rio Grande, tem toda uma construção aqui e eu sempre aprendi com ela que a gente não consegue discutir o futuro se não resgatarmos e preservarmos o passado.”

O novo prefeito pensa na instalação de um museu físico e outro virtual. “Hoje as crianças e os jovens da cidade não conhecem a história, não fazem ideia do quanto o nosso município é importante para a Região. A ideia é que a gente possa ter tanto um museu físico quanto, no futuro, um virtual também para que os jovens possam ter acesso a essas informações. Para nós, a questão da história não é só para preservação, mas para a construção do futuro que a gente quer para a cidade”.

Os primeiros japoneses

Não é de hoje que os japoneses fazem história na Região. De acordo com Medici, os dois primeiros que se fixaram em Santo André e em São Bernardo têm descendentes até hoje nas cidades.

“Em Santo André, José Adamastor, nome abrasileirado de Ichi Hamashita. O entrevistei em 1978. Estava com 79 anos, natural de Amaoka. Chegou a Santo André com 18 anos de idade. Casou-se com uma portuguesa. Teve oito filhos”, conta Medici.

“Em São Bernardo, Sadaichi Takeshita, mais conhecido por José Takeshita, que chegou à cidade em 1918. Médico naturalista. Sobreviveu a um naufrágio. Em São Bernardo, exerceu vários ofícios. Foi mecânico de teares e barbeiro. Casou-se com Maria Scopel, descendente de italianos. Tiveram quatro filhos, um dos quais, Claudio Takeshita, foi vereador e presidente da Câmara Municipal”, finaliza o memorialista.