Pesquisa da USCS estuda interações e o brincar na natureza
Locus da pesquisa sobre o “desemparedamento da infância” se dá em uma creche da Rede Municipal de Educação de São Caetano do Sul
Locus da pesquisa sobre o “desemparedamento da infância” se dá em uma creche da Rede Municipal de Educação de São Caetano do Sul
A aluna Viviane Graciele de Araujo Valerio, do Mestrado Profissional em Docência e Gestão Educacional da USCS, partiu da seguinte pergunta norteadora para realizar sua pesquisa: como vem sendo construído o “desemparedamento da infância” em uma creche da Rede Municipal de Educação de São Caetano do Sul? Trata-se de uma pesquisa qualitativa, um estudo de caso, cujo os procedimentos metodológicos foram: entrevistas semiestruturadas com as professoras e as gestoras da creche, análise do Currículo Municipal de Educação de São Caetano do Sul e do Projeto Político Pedagógico da creche, e a Documentação Pedagógica da professora pesquisadora.
Viviane conta que a pesquisa surge de inquietações e reflexões acerca das crianças pequenas passarem seus dias nas creches e pré-escolas em espaços fechados por longos períodos, muitas vezes sem acesso às janelas e com pouco ou nenhum, tempo e espaço para brincar e interagir com liberdade em contato com a natureza, tendo assim seus corpos disciplinados por rotinas rígidas que desconsideram a criança como sujeito cultural e social, com vontades, desejos e interesses próprios. “Em 2012, ingressei na Prefeitura de São Caetano do Sul, também como professora de Educação Infantil e nessa trajetória de oito anos, as crianças que permanecem na creche/pré-escola em período integral (nove horas), em espaços fechados, com pouco tempo para brincarem livremente, comprovaram o que eu já imaginava. Há uma necessidade e urgência de romper, desconsiderar as paredes de cimento, dizendo sim à vida, à liberdade, ao brincar e ao interagir com os ambientes naturais, descobrindo e construindo dia a dia suas aprendizagens e assim manifestando suas culturas nas vivências e interações na e com a natureza”, explica a pedagoga.
A pesquisadora salienta que nesta sociedade adultocêntrica e utilitarista, cujas palavras de ordem são poder e domínio, muitos(as) professores(as) acreditam que exista um padrão de comportamento e que a aprendizagem só ocorre nos momentos que eles(as) preveem em suas propostas e ações pedagógicas, afirmando, por vezes, saberem o momento exato em que a criança aprende e como aprende. “O intuito principal: preparar essa criança para ser adulto(a), não a reconhecendo como alguém que o é no presente,
mas como alguém que virá a ser. Assim, onde fica afinal a infância? Essa infância do presente, do agora. Como dar visibilidade às vozes das crianças nessa sociedade extremamente adultocêntrica? Como organizar contextos educativos que valorizem e potencializem suas produções culturais?”, questiona a ex-aluna do PPGE-USCS.
Além da pesquisa teórica, Viviane também fez a parte de campo. Para a coleta de dados, os procedimentos metodológicos utilizados foram: a análise do Projeto Político Pedagógico da creche e do Currículo Municipal de Educação de São Caetano do Sul, a Documentação Pedagógica da professora-pesquisadora e as entrevistas com as cinco professoras e duas gestoras da creche. “Ao analisarmos os resultados dessa pesquisa, nos deparamos com uma contradição, em que as entrevistadas reconhecem os espaços externos em meio à natureza como um espaço que encanta e é desejado pelas crianças para assim construírem suas aprendizagens. Por outro lado, tais entrevistadas também demonstram insegurança e medo com relação às crianças pequenas se machucarem com os elementos da natureza ou ficarem doentes com banhos de chuvas, brincadeiras com água ou mesmo de saírem dos espaços fechados no tempo frio”, analisa a pesquisadora.
Como produto de sua dissertação, Viviane elaborou um e-book com a narrativa das vivências e experiências brincantes das crianças na e com a natureza. “O objetivo, ao compartilhar as ações e contextos brincantes de aprendizagens nos espaços externos em meio à natureza, é o de tornar visíveis as experiências em que as crianças interagem, exploram e constroem suas aprendizagens e produzem suas culturas para além das paredes convencionais das salas de referência, efetivando gradativamente o ‘desemparedamento da infância’ na creche”, explica Viviane. O e-book está disponível, gratuitamente, em: https://www.amelieeditorial.com/desemparedando-a-infancia-as-criancas-e-o-quintal-brincante-da-creche/.
Segundo a orientadora da pesquisa e professora da USCS, Profa. Dra. Marta Regina Paulo da Silva, “o trabalho de Viviane nos apresenta a poética da infância. Ao investigar as crianças no quintal brincante da creche evidência a urgência de romper com as ‘paredes’ que aprisionam os corpos infantis. E faz isso não apenas denunciando a situação de ‘emparedamento’, mas anunciando possibilidades concretas de ‘desemparedar’. Por meio de fotografias e relatos adentramos em um universo em que as brincadeiras e as interações na e com a natureza revelam que aprender de forma prazerosa, com liberdade e alegria, é possível, sem com isso abandonar a rigorosidade, a seriedade e o compromisso ético, estético e político tão necessários à educação das crianças”, avalia Marta.
A dissertação de mestrado de Viviane Graciele de Araujo Valerio pode ser acessada em https://uscs.edu.br/pos-stricto-sensu/arquivo/655.
O programa de Mestrado Profissional em Docência e Gestão Educacional da USCS tem como objetivo geral a qualificação de docentes e gestores para uma atuação profissional ética e transformadora de processos aplicados, no âmbito da Educação Básica, realizada por meio da integração do conhecimento teórico com o prático. Desta maneira, procura contribuir com a criação de práticas educativas reflexivas que colaborem numa atuação mais qualificada na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Média. Mais informações: https://uscs.edu.br/pos-stricto-sensu/ppge/mestrado-profissional-em-educacao.