Em entrevista exclusiva ao ABCD Jornal, prefeito de São Bernardo fez balanço dos 8 anos de mandato e o que deixa de legado para a cidade
O prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, disse em entrevista exclusiva ao ABCD Jornal que terá um período sabático nos Estados Unidos após deixar a Prefeitura. Ele vai estudar em Boston, nos Estados Unidos. Durante entrevista ele fez balanço do mandato e falou do legado que deixará para a cidade. Morando também fez avaliação das eleições municipais deste ano e informou que estará nas urnas em 2026 como candidato a deputado.
ABCD Jornal – Prefeito, após oito anos, qual é o legado que o senhor deixa para São Bernardo do Campo?
Orlando Morando – Olha, foram muitas as conquistas, né? Tenho que fazer uma retrospectiva. A primeira é deixar administrativamente a cidade melhor. Segunda, eu vou entregar uma cidade não da forma que eu recebi. O ex-prefeito Luiz Marinho me deixou mais de R$ 200 milhões em dívidas vencidas. Conta de água sem pagar, conta de luz, conta de remédio, alimento. Vou entregar 100% do meu exercício quitado até dia 31 de dezembro de 2024. Não vou deixar dívida para o Marcelo. Tudo que vence até dia 31 vai ser pago na nossa gestão. A cidade conta com uma estrutura muito diferente. Precisamos lembrar que eu recebi a cidade, além de endividada, inchada e com mais de 70 obras abandonadas. ,Obras como o Piscinão do Paço, o Museu do Trabalhador, Viaduto da Luiz Pequini, da Castelo Branco, da Robert Kennedy, obras de habitação abandonadas. A cidade estava em caos. Na minha gestão todas as obras foram entregues e um volume de investimento como nunca se viu. A receita disso foi austeridade. Eu iniciei ajustando as contas da cidade. Nós vendemos carros oficiais, acabamos com telefone corporativo, diário oficial, reduzimos cargos comissionados. A cidade voltou a respirar. Foi assim que a gente pagou as dívidas e foi assim que a gente conseguiu voltar os investimentos para São Bernardo do Campo.
ABCD Jornal – Depois dos ajustes o que foi feito?
Orlando Morando – Depois da casa arrumada, criamos os programas e entregamos. Quando você fala da saúde, nós entregamos Hospital de Urgência, devolvemos o Hospital Anchieta, entregamos o Hospital da Mulher, entregamos o Hospital de Olhos, entregamos uma nova UPA do Jardim Silvina, reabri o pronto-socorro do Taboão, entreguei quatro CAPs novos: CAPs Rudge Ramos, CAPs Selecta, CAPs Centro e CAPs Alves Dias. Entregamos um hospital veterinário, algo inovador que a cidade de São Bernardo não tinha. Finalizamos as obras do Piscinão do Paço, acabamos com as enchentes da região central de São Bernardo do Campo, transformei o que era para ser museu em Fábrica de Cultura. Entregamos todas as obras de mobilidade.
Acrescidos a isso, recapeamos mais de mil quilômetros de ruas em São Bernardo do Campo. Iniciamos a construção da Ponte Estaiada que está com 80% da obra executada. Dois novos viadutos ligando o Corredor ABD a Fábio Luiz Esquivel. Entregamos 50 mil escrituras, 2 mil apartamentos entregues, e mais 2 mil em obra. A cidade foi transformada. 65 praças-parques e 25 arenas-parque. Entreguei o parque novo das Bicicletas, o Parque no Alvarenga, Parque da Luiz Pequini. Reformamos o Salvador Arena, reformamos o Parque Raphael Lazzuri. Ninguém pode negar: a cidade está bem melhor.
Na área da drenagem e contenção de deslizamentos, investimos R$ 100 milhões. No Ferrazópolis, no Jardim Silvina, na Vila São Pedro, no Alvarenga, no Riacho Grande. Canalizamos mais de 10 córregos em São Bernardo. Duplicamos corredores estratégicos, a Estrada Samuel Aizemberg, a Estrada dos Alvarengas, o alargamento da Estrada do Poney Club, a ligação do Jardim das Orquídeas com o Trevo do Rodoanel. Criamos oito corredores de ônibus, entregamos dois terminais novos rodoviários, entregamos três restaurantes Bom Prato. A cidade não tinha nenhum. Já entreguei dois e vamos entregar o terceiro até o término da nossa gestão. Revitalizamos 18 campos de futebol com o apoio da deputada Carla Morando. Grama sintética, iluminação, vestiário reformado.
Então, vamos dizer isso daí. Eu acho difícil falar uma área que não teve uma atuação na cidade. Nós mexemos bem com a mobilidade urbana. Nós mexemos na cultura, no esporte, na saúde. E o ponto alto para mim foi a educação. Nós saímos de 1.300 alunos em período integral para 30 mil.
ABCD Jornal – E o povo ainda quer mais vagas de período integral…
Orlando Morando – Se o programa for mantido, é óbvio que vai caber o Marcelo Lima. Dia primeiro de janeiro é ele que decide os destinos da cidade, sempre torcendo por ele. Mas assim, nós saímos de 1.300 para 30 mil. E eu vejo que a longo prazo dá para ter todas as crianças em ensino integral. Inclusive, o plano de governo do Marcelo diz isso. Então, pode ser que ele mude a forma, isso é um direito dele. Mas assim, essa ampliação de criar período integral é genial. Ontem, nós entregamos o Centro de Educação Integral Paulo Renato. Um antigo campus da Metodista, que nós negociamos e pegamos isso para o município para abatimento em dívidas dela. Todas as crianças de quarto e quinto ano têm o seu próprio Chromebook. Material escolar uniforme no primeiro dia de aula. A merenda é incomparável com o que era no passado. Eu mando um cardápio para todos os pais verem o que as crianças se alimentam cada dia da semana.
Eu consigo avaliar se a cidade está perfeita ou não. A cidade está bem melhor, está bem melhor. Isso, quem diz, não sou eu. O próprio Instituto de Pesquisa, o Paraná, deu, esta semana, de que a cada 10 moradores, sete aprovam a minha gestão. Que, para mim, é o melhor legado que eu posso ter. Você sai realizado com esse número? Eu saio realizado. Conhecendo as adversidades da cidade. O que é a adversidade da cidade? Ela é altamente politizada. Aqui você tem diversos deputados de oposição. Tem a Carla que é de situação. É uma cidade, sobre o aspecto eleitoral, sempre muito disputada. Não foi diferente nessas eleições.
Mas, dentro das condições colocadas financeiras, em 8 anos o país teve 3 presidentes da República. Nós tivemos 5 governadores. Pandemia, 2 anos de uma profunda pandemia, um abalo econômico enorme. Eu me sinto realizado com o que nós fizemos, sabendo que tem mais por fazer. Não acho que a cidade está perfeita. Mas eu deixo, sim, a cidade um sentimento de dever cumprido.
ABCD Jornal – Quais foram as suas principais dificuldades nesse período?
ABCD Jornal – As questões financeiras, sem dúvida nenhuma. O país está estagnado. O país está patinando há uma década. E as questões orçamentárias são sempre um grande desafio. O serviço público nasceu da burocracia pública. Mas, sem dúvida nenhuma, administrar um orçamento, elencar as prioridades, observar o gasto, o controle do gasto público, austeridade, cortar desperdício, foi, sem dúvida nenhuma, o maior desafio.
ABCD Jornal – Prefeito, apesar de o senhor ter mais de 70% de aprovação, senhor não conseguiu fazer o seu sucessor. Por quê?
Orlando Morando – A minha sucessão é algo que precisa ser compreendido. Eu fiz aposta em um produto sobre aspecto político na Flávia Morando, que é minha sobrinha, tem 33 anos agora, mas ela não tinha bagagem política. E o eleitor não compreendeu isso. Apesar dela fazer quase 21%. Se você olhar os quatro candidatos no primeiro turno, todos na casa dos 20. Ela, apesar da minha aprovação, as pessoas não sentiram confiança suficiente nela. Ou porque achou ela muito jovem, ou por ela nunca ter sido política, nunca ter disputado uma eleição. Eu acho que esse foi a ausência que teve. A Flávia é uma pessoa de muitas qualidades, provou isso ao longo da campanha, mas o eleitor preferiu alguém com mais experiência. E a gente entendeu. O eleitor é soberano, a eleição é democrática, e a gente compreendeu bem. Declinamos o nosso acordo, dedicamos o nosso apoio para o Marcelo Lima, que foi o vitorioso no segundo turno.
ABCD Jornal – E como está essa transição de governo?
Orlando Morando – Bem, a relação é muito boa, muito respeitosa. Vejo o Marcelo bastante empenhado em escolher o melhor time para a cidade. É natural que o governo dele tem que ter a marca dele. Como o meu teve a minha, mas super sereno, muito tranquilo, uma boa torcida aí para que ele faça um excelente mandato.
ABCD Jornal – Mas vai ter participação no governo ou não?
Orlando Morando – Eu efetivamente, diretamente, não. Eu dei liberdade para ele convidar quem ele quisesse da minha equipe. E vejo ele convidando algumas pessoas para integrar o governo, se não no primeiro escalão, no segundo, o que é plenamente natural e me deixa extremamente confortável.
ABCD Jornal – Qual a obra que você gostaria de ter entregue e não vai conseguir?
Orlando Morando – Eu entreguei as obras essenciais da cidade. A ponte estaiada, a empresa falhou. Apesar que a primeira colocada desistiu, começou a obra e parou. Mas vai ser entregue, o recurso está garantido, a maior parte do recurso é do governo estado, foi garantido pela Carla. É a única obra grande que eu esperava de ter entregue e não deu tempo. Mas não vejo nenhum problema nisso, o Marcelo, com certeza, vai finalizar ela.
ABCD Jornal – E o que o senhor projeta para o seu futuro?
Orlando Morando – Olha, pretendo me dedicar um pouco a estudar o ano que vem. Eu estou há muitos anos na vida pública. Eu tenho mandato desde 2000. Então, nós estamos falando aí de 25 anos, exclusivamente, conciliando a atividade empresarial, que é da onde eu vivo, da onde eu sustento. Enfim, para manter o meu padrão de vida, eu vivo na iniciativa privada. Então a ideia é ter um período sabático no primeiro semestre de 2025. Eu devo me ausentar, inclusive, do Brasil.
Estou trabalhando, vendo meu visto para estudar fora, fazer alguns cursos voltados à política pública, conhecer novas experiências. O mundo oferece muita coisa moderna. Então, vou aproveitar esse período sabático para poder estudar um pouquinho, melhorar o meu inglês também.
ABCD Jornal – Então a ideia é ir para os Estados Unidos. Mas e a família fica?
Orlando Morando – Todos ficam. As crianças estão matriculadas em escola aqui, não querem mudar, a Carla tem mandato. Ela vai continuar com a atuação dela parlamentar. E a gente intercala. Eu venho para cá num feriado, eles vão para lá outro, para a gente poder se ver. Mas a ideia está programada até o presente momento. Em fevereiro, eu saio um pouquinho de cena. Eu acho que isso é bom. Acho que também a minha presença na cidade do início pode gerar desconforto. O Marcelo tem que ter total liberdade para pôr em prática o plano de governo dele a equipe dele. Vou estar online, mas à distância.
ABCD Jornal – O que está programando para esses últimos dias do seu mandato?
Orlando Morando – Não tem nada especial. Ajustando as contas, tenho reunião quase que diária com o o secretário de Finanças Gavinelli para entregar tudo arrumadinho para o Marcelo Lima. Tem algumas entregas previstas, escrituras para entregar ainda. Tem algumas coisas sendo finalizadas.
ABCD Jornal – E que mensagem você deixa para a população? Você acha que a população foi grata a você por tudo que você fez pela cidade?
Orlando Morando – Pelo contrário, quem é grato à população sou eu, que fui escolhido por duas vezes. Eu tenho uma eterna gratidão. Ser escolhido em uma cidade tão grande, tão importante, a quarta cidade do estado de São Paulo, por duas vezes ser eleito, na minha reeleição do primeiro turno contra o ex-prefeito, que foi o Luiz Marinho, mostra claramente a confiança que as pessoas tiveram no meu trabalho e na minha atuação. Então, a minha primeira mensagem é de muito obrigado. O povo de São Bernardo permitiu que eu realizasse o meu sonho de ser prefeito. E eu espero de ter realizado o sonho de milhares de pessoas. Para quem esperava a escritura, para quem esperava a casa, para uma mãe que não tinha onde pôr o filho na creche, para outro que esperava por um leito hospitalar, para aquele que sonhava com hospital veterinário, para aquele que queria chegar mais cedo em casa, e o nosso sistema viário melhorou. Então, eu sou grato demais à confiança que as pessoas me deram. Eu fiz o meu melhor. Se eu não fiz tudo que foi possível, eu dei o meu melhor nesses oito anos. E eu acho que a reciprocidade é a aprovação. Terminar o segundo mandato com 70% de aprovação, de um grupo de dez pessoas, sete diz que está aprovado, acho que é o melhor legado que eu posso levar.
E o carinho que eu recebo das pessoas, especialmente nessa reta final, as pessoas me cumprimentam com um sentimento de muita gratidão pelo que eu estou deixando, pela cidade que eu estou entregando. Para mim isso é maravilhoso.
ABCD Jornal – Prefeito, para finalizar, os moradores vão te encontrar na urna em 2026?
Orlando Morando – Claro que sim. É muito provável. Eu não sei ainda em qual projeto. Está muito longe. Não pretendo antecipar qualquer processo eleitoral. Acho que isso não é bom. (Mas tenho 50 anos, vitalidade, gosto da política. Não sei ainda, mas com certeza eles irão me encontrar.
