
Para muitos, a figura do Papai Noel se resume à entrega de presentes e fotos festivas. Para William Roberto Campos, no entanto, a roupa vermelha e a barba branca são ferramentas de acolhimento e transformação. Atualmente atendendo as famílias no Mauá Plaza Shopping, William carrega em sua bagagem histórias que vão muito além do consumismo natalino, tocando em temas como luto, superação e amizade.
O chamado inesperado
A trajetória de William na função começou de forma inusitada, há cerca de 12 anos. Na época, ele trabalhava realizando entregas de uniformes escolares com seu caminhão em Guarulhos. “Eu não escolhi, eu fui escolhido”, relembra. Sentado em um banco baixo, foi abordado por uma menina de cinco anos que o questionou se ele era o Papai Noel.
Mesmo sem a barba tão longa ou branca como hoje, ele não teve coragem de decepcioná-la. O episódio terminou com mais de 20 crianças ao seu redor, acreditando terem encontrado o Bom Velhinho no pátio da escola. Ao chegar em casa e contar o ocorrido, sua filha percebeu o potencial daquela conexão e anunciou no Instagram: “Papai Noel com barba original”. Era o início de uma nova missão.
Entre pedidos impossíveis e milagres cotidianos
Ao longo de sua carreira em diversos shoppings, incluindo o Shopping Plaza Sul, William enfrentou desafios emocionais que exigem mais do que paciência — exigem sensibilidade. Ele recorda, com os olhos marejados, o dia em que uma criança de cinco anos pediu o que ele não podia comprar: “O senhor traz a minha mãe de volta?”.
“Vai retirar de onde?”, questiona William em seu relato. “Eu disse a ela que o Papai do Céu precisa de mães muito boas para cuidar das crianças que estão com Ele, e que a mãe dela foi escolhida para esse trabalho especial, mas que estaria sempre olhando por ela. No fim, ela se convenceu.”
Outro caso marcante envolveu um menino chamado Miguel. Inicialmente avesso à interação, a criança — que nasceu prematura e tinha dificuldades de socialização — passou a visitar William diariamente. A conexão foi tão forte que, em um ano em que William precisou se afastar por motivos de saúde, a família do menino o procurou em quatro shoppings diferentes, pois a criança se recusava a aceitar outro Papai Noel. O vínculo evoluiu para visitas domiciliares e participações em festas de aniversário da família.
O combustível que mantém a magia
Aos que perguntam sobre o cansaço da rotina intensa de fim de ano, William é categórico. Embora o corpo peça descanso, é o impacto psicológico e emocional das histórias que o define. “A gente chega em casa, dorme, descansa e acabou. O problema é a cabeça. As histórias que você vê… são essas histórias que me mantêm”, afirma.
Para o público do Mauá Plaza Shopping, William Roberto Campos não é apenas um personagem de Natal, mas um ouvinte atento que prova que o verdadeiro espírito da data reside na empatia e na capacidade de oferecer uma palavra de conforto quando o presente mais desejado não pode ser embrulhado.
