Unidas no esporte e na vida, Mel e Gabi vibram juntas pelas conquistas, por uma nova manobra, pela superação de medos e obstáculos. Uma com 47 anos, outra com 16, a diferença de gerações desaparece quando o assunto é o esporte radical que as conecta ainda mais: o skate.
Mãe e filha participam juntas das aulas de skate para meninas em São Caetano, no parque linear, promovidas pelo projeto 2 das Minas, um braço da Associação das Minas que tem como propósito utilizar o skate como ferramenta de inclusão, acolhimento e desenvolvimento pessoal.
“O projeto 2 das Minas surgiu a partir de um encontro informal entre mulheres em busca de apoio mútuo para se desenvolver no skateboard. Percebemos que além do suporte na hora de uma manobra, as mulheres que frequentavam os encontros buscavam pertencimento e acolhimento. Os encontros eram frequentes, todas as segundas-feiras, e foram naturalmente se estruturando como aulas, com a chegada da Instrutora Bianca D’arc. Ela organizou as turmas, horários de aulas, classificação etária e hoje tudo acontece de forma organizada e documentada”, explica a idealizadora do projeto, Luciana Tozo Vieira.
As aulas, que também acontecem em São Paulo, no bairro Heliópolis (divisa com São Caetano), atendem a 40 meninas e mulheres somente na cidade do ABC (a fila de espera já soma um total de 38 pessoas).
“A palavra é gratidão. Às vezes você esquece do dia que não está muito bem. Chega lá bem triste, para baixo, e basta começar para melhorar. Realmente, é como se fosse uma família, é gratificante, o acolhimento em si é maravilhoso”, disse Mel, que no documento é Maria da Penha, mãe da Gabriela.
Mesmo com limitações físicas provocadas por uma fibromialgia, problemas na coluna e uma tendinite, a moça não mede esforços para vencer os desafios impostos pelo esporte que usa também, além do próprio exemplo, para mostrar à filha que ela “pode tudo que quiser”.
Foi na prática do skate, aliás, que a Gabi venceu a vergonha e é por onde tem ainda mais orgulho da mãe. “Comecei a andar por causa do meu irmão mais novo, e fui me soltando mais. Quando vi que ela sempre me apoiava e vibrava por mim, falei: ‘mãe, vamos andar’. E ela foi”, conta a menina ao também dizer que as amigas sonham com uma mãe como a dela.
As garotas Vitória e Valentina, de 12 e 6 anos, respectivamente, também sentem muito orgulho da mãe skatista. Vanessa Alves dos Santos Coelho tem 34 anos e começou no esporte depois das meninas.
Ela, que protagoniza com as filhas lindas imagens andando de skate de mãos dadas, comemora o fato de já estar aprendendo a “dropar” (descer uma rampa) e acredita que o esporte, além de ser bom para o corpo e a mente, une ainda mais a família.
“Amo participar do skate com as meninas. O esporte só nos aproximou ainda mais”, diz.
Além da coragem, bem-estar e oportunidade de reunir as mulheres da família, o projeto e o esporte também trouxeram às praticantes o incentivo ao movimento. “Sempre incentivamos o moviment. Mulheres em movimento são mais felizes. Hoje vemos o quanto essa conexão mãe e filha no skate estreita o relacionamento entre elas e o quanto elas ficaram mais próximas, mais amigas, mais unidas. Além é claro, de termos empoderado muito essas mães”, afirma a idealizadora do projeto.
Ainda de acordo com ela, a participação das mães foi acontecendo de forma muito natural. “Elas vinham trazer suas filhas e ficavam ociosas esperando, então nós sempre estimulamos todas a subirem no skate, a experimentarem. A maioria gostou e hoje se diverte muito com o ‘carrinho mágico’.”
Exclusividade
Há três anos, tanto no antigo local que abrigava uma rampa – a estação jovem, em São Caetano, quanto no atual parque linear, a segunda-feira é sempre o dia exclusivo para as meninas e mulheres esportistas. “Independentemente de estar ou não matriculada no projeto, a sessão de skate é livre para mulheres. E todas são bem-vindas: de skate, patins ou BMX”, explica Luciana.
O dia especial é considerado uma grande conquista para o projeto e o esporte na cidade.
Aulas
As aulas são totalmente gratuitas com skates e equipamentos de proteção disponíveis para todas as meninas.
