
A última turnê do cantor Gilberto Gil, que volta a São Paulo nesta semana, vai contar com uma plateia ilustre na próxima sexta-feira (17/10), no Allianz Park: o professor Daniel Mendes e sua turma de 20 crianças (cada um com um acompanhante responsável) assistirão ao show Tempo Rei a convite do próprio Gil, que se encantou com o trabalho do professor da Emeief Cândido Portinari, escola da rede municipal de Santo André.
“Alegrias de quintal: uma mini história de Gilberto Gil é o nome do filme criado e inventado por crianças de 5 anos que amam o artista. É educação infantil, é escola pública, é cultura brasileira.” Foi com esta legenda que o professor postou o vídeo em seu perfil no Instagram e que, até o fechamento desta reportagem, já tinha 61 mil curtidas, 37,8 mil compartilhamentos, 3,9 mil repostagens e 6,3 mil comentários, entre eles o de Flora Gil e o da atriz global Glória Pires.
O sucesso todo não é à toa. Aos 30 anos e formado em Pedagogia e Letras, o professor planeja suas aulas e desenvolve um trabalho que prioriza, essencialmente, o protagonismo infantil. Com base em um apanhado geral de metodologias, Daniel traça um caminho original que traz um tanto de si mesmo e encanta os pequenos alunos/artistas.

No primeiro semestre deste ano, Daniel trabalhou a história de Gil e as músicas do artista com as crianças, que logo se apaixonaram por “Esperando na Janela” e, na sequência, “Aquele Abraço”. “Tanto que queriam cantar para todo mundo: para a diretora, para a equipe da cozinha e da limpeza. Aproveitei para ensinar algumas palavras que eles não sabiam o que significavam… A ‘fé’ de Andar com fé, por exemplo.”
No retorno das férias de julho, o professor perguntou para as crianças se elas queriam saber quem é o Gil. “Trouxe o livro biográfico dele, que é raro e encontrei no Enjoei (aplicativo de consumo colaborativo, onde as pessoas podem comprar e vender produtos novos e usados), e fui lendo para eles. Todos se interessaram muito.”
E foi assim que o filme nasceu: Daniel explicou às crianças que existiam várias formas de se contar uma história. Através de poesia, livro, filme e a última opção foi unanimidade entre os pequenos.

A partir daí, começou um trabalho conjunto entre as crianças e o professor onde todos puderam colocar a mão na massa. Desde a escolha de quem interpretaria qual personagem até a decisão dos figurinos e como seriam feitas as maquetes de Salvador, do Rio de Janeiro e outros cenários. Exatamente tudo passou pelo crivo das crianças. Em conjunto, por exemplo, foi que elas decidiram que o pequeno Davi interpretaria o próprio Gil porque “era o mais parecido com ele”.
Daniel fez questão de explicar que tudo aconteceu sem pressão nem o compromisso de acelerar as filmagens. As crianças se aprontavam para as cenas, ele filmava e elas continuavam a brincar com os materiais dos cenários, figurinos e acessórios.
Finalizadas as gravações, o professor editou o material e resolveu postar em suas redes. Entrou em contato com o perfil de um projeto online que divulga a obra de Caetano, Gil, Gal e Bethânia e pediu que fossem colaboradores na publicação com a ideia de que o material chegasse ao próprio cantor.
Não só chegou como encantou a todos da produção e da família de Gil. Não demorou para que os assessores do artista divulgassem um vídeo com o próprio cantor assistindo e comentando o filme das crianças.

Desde sempre
Não foi só com a história de Gilberto Gil que o professor cativou os pequenos. Eles já tiveram contato com a obra de Milton Nascimento e, mais recentemente, têm estudado um tema que gostam muito: os dinossauros. Já foram ao teatro, a exposições e outros passeios possibilitados pela Prefeitura de Santo André, pais e até pela iniciativa privada e força-tarefa de amigos do professor.
“Ser professor no Brasil, no geral, é um hábito de resiliência. Na verdade, acho que ainda se deve pelo fato de a escola pública ser oferecida a todos há pouquíssimo tempo. Mas acho que estamos no caminho e construindo. O mundo muda muito rápido, as crianças hoje são outras e precisamos nutrir o encantamento de continuar acreditando e confiando na educação.”
O secretário de Educação de Santo André, Pedrinho Botaro, disse ao ABCD JORNAL que o trabalho de Daniel na escola é um exemplo. “O minidocumentário desenvolvido pelo Prof. Daniel é a prova de que temos um grande potencial na rede para desenvolver atividades que envolvam os alunos, de maneira simples, porém lúdica, através da descoberta, do trabalho em conjunto e da música, como complemento ao trabalho didático. Com certeza é um exemplo que iremos compartilhar com toda a rede e valorizar cada vez mais atividades como essa.”
O professor cineasta e os alunos atores mirins seguem com a fé que não costuma falhar rumo à realização de um punhado de sonhos na próxima sexta-feira: o de conhecer Gil, ouvir ao vivo as músicas que tanto amam, conhecer um estádio de futebol e por que não, dar ‘Aquele Abraço’ no cantor. A produção vai mandar um ônibus a Santo André para levar crianças, responsáveis e o professor para assistirem ao show de sexta-feira, Tempo Rei.
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