Após reintegração de posse, moradores ocupam CRAS em S.Caetano
Sem acesso a água, comida e sanitários, famílias são impedidas de receber alimentos e doações de itens de higiene; Prefeitura pede nova reintegração A reintegração de posse do terreno do antigo edifício Di Thiene, no bairro Fundação, em São Caetano, na quarta-feira (2/06), acabou em mais uma ocupação e um novo pedido de reintegração […]
Sem acesso a água, comida e sanitários, famílias são impedidas de receber alimentos e doações de itens de higiene; Prefeitura pede nova reintegração
A reintegração de posse do terreno do antigo edifício Di Thiene, no bairro Fundação, em São Caetano, na quarta-feira (2/06), acabou em mais uma ocupação e um novo pedido de reintegração por parte da Prefeitura da cidade, desta vez ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social).
Após serem despejadas do terreno onde ficava o prédio (que havia sido interditado pela Defesa Civil da cidade após desabamento parcial da laje em junho), as 76 famílias – 138 pessoas, de acordo com um dos moradores – seguiram para o CRAS onde se mantinham desde a reintegração até o fechamento desta reportagem, na noite desta quinta-feira (3/06). O CRAS fica na mesma rua do terreno, rua Heloísa Pamplona, no bairro Fundação.
“Morei lá por 18 anos, algumas pessoas passaram 52 anos no local. A Prefeitura não nos dá uma resposta. Precisamos de pelo menos uma escola para nos abrigarmos e não termos de ir para debaixo de um viaduto”, disse o vendedor ambulante Cícero Taveira do Nascimento, 42 anos.
De acordo com Nascimento, a GCM lacrou os banheiros e não permite a entrada de alimentos nem produtos de higiene no local. Uma adolescente de 13 anos foi atingida por spray de pimenta da GCM, chegou a ser socorrida no local e levada para atendimento hospitalar.
Uma professora que preferiu não se identificar, membro da Aspescs (Associação dos profissionais da educação de São Caetano do Sul), disse que ela e um grupo de amigos reuniram-se para comprar mantimentos e itens de higiene, mas que foram impedidos de entregar as doações aos moradores. “Entendemos que é um problema judicial e não vamos entrar no mérito de quem está certo. Nossa questão é humanitária, queríamos levar ajuda porque há crianças e as pessoas não podem ser trancadas sem acesso a comida e banheiro. Ontem (quarta-feira), alguns estavam fazendo necessidade em sacolinhas de plástico.”
A professora disse que presenciou quando a GCM jogou o spray de pimenta em direção às pessoas. “Ali não tinha ninguém oferecendo risco para nenhuma outra pessoa, e eles foram truculentos. Além disso, tiraram as tarjetas com as identificações do uniforme.” A GCM foi procurada para comentar o caso, mas não deu retorno à reportagem.
Entre as reivindicações dos moradores está a liberação do banheiro para as crianças, um local onde possam pernoitar e ficar – abrigo, escola, clube – e uma reunião pública com o prefeito interino Tite Campanella.
“Somos famílias que vivíamos no antigo edifício há décadas. Em 2019, com o desabamento e posterior demolição do prédio, o poder público prometeu-nos moradias populares. Até que estas fossem construídas, tivemos o auxílio-aluguel. Ocorre que essas moradias nunca passaram de promessas”, afirmam os moradores, por meio de carta de reivindicações à Prefeitura.
Por meio de nota, a Prefeitura afirma que a questão do projeto de construção de unidades habitacionais no local onde foi demolido o edifício Di Thiene continua em poder da Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo.
Leia a nota:
“Sensível às necessidades destas pessoas, a Prefeitura pagou auxílio aluguel às 100 famílias que moravam no local, em 18 parcelas, sendo R$ 800 na primeira parcela e R$ 400 nas subsequentes.
Antes da reintegração de posse, a Prefeitura e a PM realizaram reunião com uma comissão de moradores do Edifício Di Thiene e foi conversado, passadas todas as ações realizadas em benefício, inclusive um possível local de construção, ofertados pela Prefeitura para a CDHU. Nesta mesma reunião, em nenhum momento a Prefeitura garantiu a retomada do auxílio aluguel, fato que, inclusive, a PM em ata anexou ao processo de reintegração de posse.
A GCM (Guarda Civil Municipal) permanecerá o tempo que for necessário no CRAS, salvaguardando o próprio público e servindo a população, duas de suas principais funções. Ante a inusitada invasão no Cras e sob o imperativo da celeridade processual, na manhã de hoje (quinta-feira), na própria Ação de Reintegração de Posse determinada pela juíza da segunda Vara Cível da Comarca local, o município de São Caetano do Sul, além dos esclarecimentos acerca das providências tomadas no atendimento aos invasores, postulou – em tutela de urgência – a evacuação das dependências municipais”.