
Corinthiano roxo desde 1910, João Alves Pereira se orgulha muito em ter nascido no mesmo ano do time do coração. Isso mesmo! Você não leu errado. Janguinha, como é chamado carinhosamente por familiares e amigos, tem 115 anos de idade.
A pessoa mais idosa de São Bernardo, como confirmado pela Prefeitura ao ABCD JORNAL, seu Janguinha, do Jardim Calux, não sabe dizer o segredo da longevidade. “É só não morrer”, brinca, sem jamais perder o bom humor diante da pergunta pra lá de esperada por um senhor centenário.
A idade, aliás, supera em uma vez e meia a expectativa de vida no Brasil em 2025 que, segundo projeções do IBGE, é de 76,8 anos. Nascido na Bahia e criado por uma avó que havia sido escrava, seu João sabe que já não se lembra de muitas coisas, detalhe que não o impede de contar os “causos” que marcaram sua história.

“Conta pra ela quantas esposas o senhor teve”, insiste Alessandra, a neta que acompanha a entrevista e que alimenta um perfil do avô no Instagram @joao_janguinha1910. Ela cuida de Janguinha e não poupa esforços para que ele viva bem e feliz. “Foram quatro. A primeira foi a Dete; a segunda, Odília, e a última foi Terta.” E a terceira?
Ele ri mais uma vez como se estivesse contando outro de seus casos, mas Alessandra diz que ele nunca fala o nome da terceira esposa. “Não tive muita sorte para mulher”, avalia Janguinha.
O tal azar a que o senhor João atribui às esposas falecidas se multiplica em sorte com as gerações seguintes. Além da neta amorosa e dedicada, Janguinha foi a inspiração para a escolha profissional de uma das bisnetas que acaba de concluir o curso de técnica em enfermagem.
Ele também é exemplo para os 6 filhos, mais de 30 netos, bisnetos e 10 tataranetos, conta que já se perdeu faz tempo embora ele garanta que não. “Lembro de tudo, mas às vezes sai do cérebro”, diz Janguinha ao rir mais uma vez da própria piada.
Todos rimos ali na pequena sala preparada especialmente para receber a reportagem com crachás, uma foto antiga, RG, certidão de nascimento, além de uma plaquinha de homenagem de São Bernardo às pessoas centenárias e a medalha João Ramalho, cedida pela cidade para homenagear o seu João.
Elegantemente trajado com camisa azul marinho e calça de alfaitaria, Janguinha já não enxerga mais devido a um glaucoma e catarata. Não importa. “Minha vida é boa”, ele diz sem sombra de dúvidas, ao listar, logo em seguida, o que mais gosta de comer: cuscuz com leite, tapioca, mingau de aveia, pão com ovo, batatinha e o primeiro e mais importante: chocolate.
O gosto do doce de cacau o faz lembrar da juventude na colheita e preparo do fruto.
A neta ressalta a saúde dos 115 anos do avô e diz que é mesmo feijão, farinha e salada que não podem faltar no prato do seu Janguinha. Salsicha é o único item que está totalmente fora de seu cardápio. Na insistência desta repórter inconformada em sair da entrevista sem o tal “segredo” da longevidade, seu João declara: “Durmo bem, acordo, tomo café com leite e pão.”
Nos dias de calor, ele senta-se ao sol da manhã na companhia do inseparável radinho de pilha. Este aí da foto que não é só cenográfico não. Funciona bem quando ajustado na frequência certa.
A neta diz que faz questão de dar na mão do seu Janguinha os cerca de R$ 1,5 mil mensais que ele recebe de aposentadoria. “É ele quem administra o próprio dinheiro. Acho que isso ajuda a manter a saúde da mente do idoso.”

Eternidade
Muito amado por familiares, amigos e vizinhos, seu João não sabe dizer como quer ser lembrado, mas sua história será eternizada por uma biografia. A autora da obra, que deve ficar pronta daqui a três meses, é Maria Silvana Benevides Regina, coordenadora pedagógica de uma creche em São Bernardo onde estudaram alguns dos netos e bisnetos de Janguinha. Na instituição, também há funcionários e familiares que o conhecem.
“No livro, falo sobre sua infância, juventude, vida adulta, maturidade, envelhecimento e homenagens recebidas após os 100 anos”, explica Silvana, que aceita patrocínio para imprimir o livro, até agora custeado com recursos próprios.
Janga. 115 anos de vida, memória e sabedoria será o título da obra que enche a família de orgulho. “Ele vai ser lembrado como a base, aquele que criou três gerações de filhos, netos e bisnetos. Vai ser lembrado com pai de todos”, sorri a neta Alessandra.
“Eu criei ela, agora ela tá me criando”, finaliza Janguinha, que segue rumo aos 116 em 7 de janeiro de 2026.
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