
Se fosse um humano, ele seria hoje um respeitável senhor de aproximadamente 63 anos. A idade estimada se deve a uma ideia de que ele tinha 3 anos caninos quando foi adotado, ou melhor, quando adotou a família que decidiu dar um lar para um vira-lata que morava temporariamente no centro de zoonoses de São Caetano.
Lá em 2019, quando pulou direto no colo do humano simpático que procurava por um cachorrinho para completar a família, Bailey jamais imaginaria o plot twist que a vida daria a partir daquele momento. O doguinho de capa preta, máscara caramelo e patas também amareladas, hoje aos 9 anos caninos, foi a inspiração do escritor e jornalista Nelson Albuquerque Jr. (o humano simpático) para criar o melhor amigo do protagonista de seu novo livro ‘Mestre Mikan e a aldeia desaparecida”: o cachorro Tofu.
Caso a estimativa dos especialistas esteja correta (que nos ensina a multiplicar por 7 cada ano de idade dos doguinhos para transformá-los em números humanos), Bailey teria hoje o equivalente à idade do melhor amigo literário, o sr. Mikan, que se instalou na tal aldeia do livro com “mais de sessenta anos”.
“Essa história começou quando escrevi um conto. Saí de uma crise de labirintite muito forte, fiquei cinco dias sem abrir os olhos e me deu vontade de escrever um conto sobre como eu queria enxergar mais a vida. Então, acabei criando 10 contos do mesmo personagem. Quando achei que daria um livro, pensei que o sr. Mikan precisava de uma companhia e foi quase espontaneamente que o cachorro surgiu. Não imaginei que fosse me inspirar pelo meu próprio cachorro, mas a forma como ele surgiu na história e quando ele surgiu já visualizei o Bailey. O cachorro já veio com a carinha e o jeito dele”, contou Nelson.
No livro, o mestre encontra o cãozinho no caminho entre a vila e sua casa no dia em que tinha saído para comprar tofu. É o queijo de soja que sr. Mikan oferece ao faminto animalzinho, que devora quase todo o pacote. Sem mais spoilers, vem da iguaria o nome do doguinho que acompanha o mestre durante toda a história do livro.
Foi também um faminto Tofu/Bailey que chegou há seis anos na casa da família do Nelson. Sem saber se teria comida suficiente para sobreviver, o doguinho chegou acostumado a comer de tudo que encontrava pelo caminho. Chegou a comer um palito de churrasco que, por sorte, saiu naturalmente sem nenhuma intercorrência pelo caminho, mas foi o episódio que motivou a família a matricular o doguinho nas aulas de adestramento.
Apesar de nunca ter provado um único pedaço de tofu, o Bailey adora a variedade de carne moída, fígado, brócolis, couve-flor, chuchu e abobrinha que vêm de “brinde” na ração que ele come duas vezes ao dia. Ele também adora comer ricota.
Foi a partir desse combo adestramento/comida boa e fresquinha/água/passeios que o Bailey passou a entender que podia ser mais calmo, que teria comida e amor de sobra sem precisar se preocupar nem ter medo de mais nada. Ali, ele deu e encontrou a paz que o sr. Mikan tanto procurou naquela aldeia do interior do Japão.
Que o diga a dona Ivani, a mãe do Nelson e uma verdadeira “avó” do Bailey. É quando ouve que vai passear na casa dela que o cãozinho dispara o rabo de tanta alegria. É lá que ele pode quase tudo, assim como os netos sempre podem nas casas das avós. É para ela a dedicatória com espaço exclusivo na página 6 do livro: “À minha mãe, para quem escrevi essa história a fim de lhe trazer algo para sorrir, e ao encantador povo japonês.”

Todo mundo ama um cãozinho
Agora já com alguns meses desde o pré-lançamento, o escritor começa a receber as opiniões e comentários dos leitores. Mensagens como a de um amigo têm sido corriqueiras: “Tofu foi inspirado na imagem do seu cachorro? Capa preta, máscara caramelo…” ou “Lendo imaginei seu dog.”
Diante de um “sim” orgulhoso do tutor/escritor, os leitores adoram acompanhar a história com a qual se identificam não só pelas características do mestre como pelo amor aos pets.
“Não foi intencional criar esse tipo de laço, essa empatia com o leitor diante do cãozinho. Surgiu tão naturalmente de mim e essa naturalidade acaba criando o vínculo. Acho que o meu sentimento se repete em outras pessoas.”
De acordo com uma pesquisa feita em 2024 pela Quaest em parceria com a Petlove, cerca de 94% dos brasileiros têm ou já tiveram animais de estimação em casa. A pesquisa, que detalhou a relação entre os tutores e seus pets no Brasil, também apontou que a maioria dos animaizinhos encontrados em lares brasileiros são SRD (sem raça definida), os famosos vira-latas como o Tofu e o Bailey – 32% dos cachorros e 52% dos gatos. Para 93% dos entrevistados, os animais de estimação são considerados parta da família e 94% consideram que cuidar de um bichinho melhorou sua saúde mental.
“Está tão difícil acreditar nas pessoas que o relacionamento com os animais parece uma coisa mais verdadeira, carinhosa, mais significativa”, diz Nelson.
O livro Mestre Mikan e a aldeia desaparecida pode ser adquirido no site da editora www.mesmeredicoes.com ou direto com o autor em contato pelo Instagram @nelsonajr
