
Referência da arte concreta brasileira e nome central da história cultural de Santo André, Luiz Sacilotto (1924–2003) tem sua obra preservada em uma ação que une conservação, memória e aproximação com o público. Um de seus últimos trabalhos — um mural de grandes dimensões instalado na caixa do elevador do Sesc Santo André — está passando por um processo completo de restauração, conduzido por uma equipe técnica formada pela arquiteta-restauradora Paula Franco Albuquerque, o conservador-restaurador Diego Gonçalves de Souza e a arquiteta-restauradora Silvana Borges da Silva.
Criado em 2003 especialmente para o espaço da unidade, o mural ocupa cerca de 92 m² distribuídos em quatro faces. Embora sem título, registros do Sesc identificam a obra como Concreção C0152 e C0153. A pintura apresenta tramas geométricas e cores que criam efeitos ópticos de profundidade e movimento, marca registrada do artista, um dos integrantes do Grupo Ruptura e pioneiro da arte concreta em São Paulo. “Essa obra cria um movimento calculado e ilusório da caixa do elevador, rompendo o limite das arestas das paredes com o uso do cromatismo das formas geométricas”, destaca Silvana Borges.
A iniciativa do restauro partiu do próprio Sesc Santo André, em paralelo à exposição “Sacilotto BioGráfico”, que integra as celebrações do centenário de nascimento do artista. “Essa é uma obra que se integra diretamente à arquitetura do Sesc e à história de Sacilotto com a cidade. O restauro é parte do nosso compromisso com a preservação do acervo e com o acesso público ao patrimônio artístico”, explica Paula Albuquerque.
Os trabalhos seguem princípios técnicos e éticos da restauração. Segundo Diego Gonçalves, foram realizados testes com diferentes produtos para limpeza da superfície, respeitando a integridade da camada pictórica. Após essa etapa, foram feitos procedimentos de consolidação, correção de fissuras e reintegração cromática nas áreas danificadas.
A equipe também considerou intervenções anteriores feitas na obra, como uma repintura coordenada pelo filho do artista. “Essa camada faz parte da história da obra. Optamos por restaurá-la sem removê-la, pois, a remoção traria riscos maiores”, afirma Silvana Borges. A metodologia adotada incluiu ainda o estudo de documentos técnicos, desenhos originais e visitas técnicas prévias.
Entre os principais danos encontrados estão perdas de tinta, fissuras, escorrimentos e acúmulo de sujeira, especialmente nas áreas inferiores da pintura. Outro desafio técnico é o acesso: a altura de 10 metros e a localização sobre a passarela do elevador exigem soluções específicas para garantir a segurança da equipe e a qualidade do trabalho. “A plataforma elevatória disponível não permite a aproximação adequada em todas as faces do mural, e estamos trabalhando em conjunto com a instituição para resolver essa limitação”, explica Paula Albuquerque.
Com previsão de término para agosto de 2025, a restauração está sendo realizada no formato de “restauro aberto”, permitindo que o público acompanhe o processo e interaja com os profissionais. A proposta também busca fortalecer a educação patrimonial e o vínculo da comunidade com o legado de Sacilotto. “O interesse do público tem sido grande, e muitos visitantes compartilham lembranças e afeto pela obra e pelo artista”, completa Paula Albuquerque.
